quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Laurel Canyon - a principal vizinhança do rock




Num sábado de primavera na California, peguei o carro e rumei a Laurel Canyon, uma linda vizinhança que separa Hollywood de San Fracisco Valley. Numa visita apressada, o lugar não oferece muito mais do que ruas íngremes, uma avenida perigosa de trânsito rápido, casas de madeira de dois pisos e inúmeras árvores. No entanto, em meio a cada rua daquelas viveu alguém notável na história da música. Frank Zappa esteve por lá desde 1968 até sua morte, em 1993. Laurel ainda serve de moradia para John Frusciante, ex-Chili Peppers e George Clooney, por exemplo.
Mas a grande ligação entre Laurel Canyon e as nossas prateleiras de discos, ou com nossas pastas de mp3, está no final dos anos 60 e início dos 70.
Foi uma época em que os artistas iam morar lá para compor e gravar discos inteiros, na grande maioria clássicos. Joni Mitchell, John Mayall, Joe Cocker, Canned Heat, Buffalo Springfield, Crosby Stills, Nash and Young, Jim Morrison, Jimi Hendrix, todos passaram pelas montanhas em meio a momentos inesquevcíveis de suas carreiras. Talvez a canção mais emblemática que tenha saído de Laurel Canyon é "Our House", em que Graham Nash narra a beleza das coisas simples de sua vida com Joni Mitchell. Impossível é não se emocionar ao circular pelo lugar.


Alguns vão citar Haight Ashbury, em São Francisco, como a vizinhança definitiva do rock nos Estados Unidos. Meus caros, na minha humilde opinião serei obrigado a discordar e afirmar que nesse quesito, o título vai para Laurel Canyon.



domingo, 4 de setembro de 2011

Por esse Clapton, eu pagaria R$1.000,00




Poucos artistas tiveram carreiras e biografias tão oscilantes quanto Eric Clapton. Nascido em meio aos bombardeios ecoantes da 2ª Guerra Mundial, o guitarrista nunca conheceu o pai, duelou contra seu ego nos anos 60, e contra a heroína na década seguinte. Sobreviveu a isso, mas se afundou no álcool e, em fase de recuperação, perdeu um filho ainda criança. Tudo antes dos 50 anos.

Claro que essa breve síntese trágica da vida de Eric Patrick Clapton serve para enaltecer a grandeza de sua obra que, mesmo com tantas adversidades, se manteve sólida ao decorrer das décadas. E em vez de falar dos êxitos de Cream, Layla, Unplugged MTV e outros pontos altos, vou me deter em um pequeno fragmento da discografia de Clapton.

Lançado em novembro de 1978, o disco Backless pode passar batido em alguma lista de grandes discos de Eric Clapton, mas aposto que, após uma única audição, passa a integrar o playlist de quem aprecia um blues rock com requinte pop. O álbum começa com a bela "Walk Out in the Rain", de Bob Dylan, em que comprova o quanto Clapton estava centrado nas canções, deixando um pouco de lado o rótulo de Deus da guitarra, embora o solo de slide seja excelente. Na sequência, "Watch Out For Lucy" é pura festa, um shuffle alegre, daqueles de ouvir com algum aditivo alcoólico por perto (de leve, é claro). Dylan reaparece na não menos classuda "If I Don't Be There by Morning". O blues dá as caras de duas formas: a mais arrastada, com "Early in The Morning" e botando a casa abaixo com "Tulsa Time". O sucesso comercial de Backless é a faixa "Promises", que aparece em algumas coletâneas de Clapton.

Em resumo, Backless é daqueles disco com a cara dos anos 70, em que a gente não sente vontade de pular nenhuma faixa. Genialidade não há, é verdade, e talvez esse seja o grande barato desse disco. Aqui a simplicidade de Eric Clapton se sobressai em relação às amarras egocêntricas de outras fases de sua carreira. Por esse Clapton eu pagaria R$1.000,00 em um ingresso para show.


Para valorzar o lado compositor de Eric Clapton, a canção que escolhi para ilustrar o post é "Watch Out For Lucy":








sábado, 3 de setembro de 2011

Direto da Guitar Player Brasil: Paul in POA



Já se passaram quase dez meses daquele domingo escaldante e histórico em Porto Alegre, quando Paul McCartney irradiou paz em território gaúcho. Foram quase três horas de apresentação que ainda fazem eco nas mentes e corações dos 50 mil presentes no estádio Beira Rio. Eu também estava lá, e compartilho aqui a matéria que fiz para a Guitar Player sobre o show e a emoção vivida.


"Desde o anúncio do show de Paul McCartney em Porto Alegre, uma onda beatle se espalhou pela capital gaúcha. Nos pontos turísticos da cidade era possível ver faixas e sinais de carinho ao músico que, junto a Jimi Hendrix, é o canhoto mais famoso e influente da história do rock. Prova do carinho do público com McCartney foi a venda meteórica dos ingressos, que em poucas horas se esgotaram.
            A última passagem do ex-Beatle pelo Brasil foi em 1993 e a expectativa pelo seu retorno se confirmou no dia do show, tanto que mais de 72 horas antes de Paul McCartney subir ao palco, filas já tomavam conta do estádio Beira-Rio, local onde o músico se apresentou. Sem dúvida, Porto Alegre nunca tinha visto algo parecido antes, até que às 21:07, cinqüenta e dois mil fãs puderam ver um beatle ao vivo. E Paul McCartney abriu o show com Venus and Mars, Rock Show e Jet, exatamente nos mesmos moldes da turnê Over America, que realizou com os Wings na metade da década de 70. No baixo de Paul, precisão e uma competência assustadora, e nas guitarras de Rusty Anderson e Brian Ray, timbres perfeitos.
            Em Letting Go, Brian, que geralmente faz as bases de guitarra, se mostrou um excelente solista. Com uma Gibson Les Paul Goldtop 1957 em mãos, arrancou aplausos durante o belíssimo solo da música. Nos riffs, ao decorrer do show, também foi impecável. Durante o show, Brian alternou entre a Les Paul, uma guitarra Gretsch, além de violões Gibson e Taylor. Os amplificadores foram dois Marshall JTM-45. Atualmente, Brian carrega consigo o rótulo de um dos grandes músicos de estúdio e apoio dos Estados Unidos.
            Já Rusty Anderson mostrou carisma, boa técnica e um timbre que deixou o público de queixo caído. De sua Gibson ES-335 1959 e de seus amplificadores Divided by 13, saiu a maioria dos solos da noite, alguns sendo fundamentais na história da guitarra elétrica, como o de Something, em que Paul McCartney toca Ukelele, instrumento havaiano muito usado por George Harrison. É interessante observar que McCartney trata os músicos no palco como integrantes de sua banda, não deixando-os como meros coadjuvantes.  

             Paul mostrou que não é apenas genial como compositor, mas também como instrumentista. Além de tocar baixo na maioria das canções, ele mostrou extrema competência no piano e na guitarra, fazendo um solo inspirado em Let Me Roll It, que teve até um trecho de Foxy Lady, de Jimi Hendrix.
            No show de quase três horas de duração, McCartney tocou um vasto repertório capaz de emocionar fãs de todas as idades, indo de All My Loving, do segundo disco dos Beatles, de 1963, até músicas mais recentes, como a bela Dance Tonight, em que Paul mostrou competência também no bandolim. Em Blackbird, o ex-beatle ganhou a companhia de uma lua cenográfica no palco e emocionou a todos com uma de suas canções mais bonitas, em um dedilhado que fez o estádio inteiro cantar e assoviar cada verso. Como em todo o grande show que se preze, também teve pirotecnia, dessa vez em Live and Let Die, em que explosões acompanhavam cada riff de guitarra. 
            Mas para os amantes da seis-cordas, a cereja do bolo foi The End, música que encerra o disco Abbey Road, de 1969, e também foi a última no show de Porto Alegre. Nela, Paul, Rusty e Brian presentearam a plateia mais uma vez, agora com uma jam session em que os três músicos empunharam guitarras para fazerem solos alternados.
            Cada um dos cinqüenta e dois mil espectadores que estiveram no Beira-Rio teve uma razão pessoal para ir assistir Paul McCartney, mas a sensação coletiva após o show foi uma só: ver um beatle de perto é uma experiência única, capaz de mudar para melhor um pedaço da vida de qualquer ser humano que tenha na música uma companheira para todos os momentos".






Comédia em tragédia em San Diego: com vocês, Jim Croce


San Diego fica no extremo sul da Califórnia, a alguns quilômetros da divisa com o México. É lá que fica uma das maiores bases militares norte-americanas, assim como um bom número de belas praias. Foi lá que vivi uma das situações mais engraçadas da minha vida, naquelas em que a comédia e tragédia andam juntas sobre o fio da navalha.

Estava eu procurando um lugar para jantar, até que me indicaram um restaurante com jazz ao vivo. Como seria minha última noite na cidade, me dei ao direito de ir ao famoso Croce's. Chegando lá, percebi que o restaurante era de propriedade do cantor Jim Croce, compositor da lindíssima "I Got a Name".

Banda de jazz tradicional "quebrando tudo", macarrão fantástico e cerveja Corona tinindo de tão gelada, ou seja, a trinca estava perfeita. Eis que na hora de ir embora, paguei a conta, dei uma generosa gorjeta ao garçom e, no impulso de turista, perguntei se eu tinha como tirar uma foto de recordação com o famoso cantor, que na minha imaginação, tinha se aposentado da estrada para se dedicar à culinária. A resposta foi: "impossível, senhor. Croce está aqui, mas apenas em nossos corações, infelizmente".

Jim Croce morreu em um acidente aéreo no ano de 1973, pouco tempo depois de se mudar para San Diego, com o intuito de abrir o restaurante. Situações constragedoras todos passam, that's all, folks...

Apesar da vergonha gigantesca, o incidente de San Diego me trouxe a curiosidade de conhecer a obra de Croce. E digo para vocês: que baita compositor! Vida curta, legado longo, eis Jim Croce.

Abaixo, o link do YouTube de um clássico que traduz o respeito que passei a ter por esse típico songwriter americano.

JIm Croce - I Got a Name - http://www.youtube.com/watch?v=Y9x15O3QYPA

Até a próxima...





terça-feira, 30 de agosto de 2011

Um Buffalo solto pela Califórnia...


Em junho deste ano, durante uma estada minha na Califórnia, tive a oportunidade de acompanhar um show do retorno do Buffalo Springfield aos palcos, 42 anos após o término da banda. Impossível não se emocionar ao ver Neil Young, Stephen Stills, Richie Furay e a trupe da casa dos 65 anos tocando como se tivessem vinte e poucos. Fiz uma resenha do show para a Guitar Player. Segue abaixo o texto original:


"Ícone dos anos 60, o Buffalo Springfield, foi uma banda fundamental na difusão do country rock. Na linha de frente do grupo estavam dois músicos fantásticos: Neil Young e Stephen Stills.
Passados 42 anos do fim da banda, os veteranos músicos resolveram se reunir para uma pequena turnê na Califórnia. Com exclusividade, a Guitar Player Brasil teve acesso a um desses poucos (e disputados) shows.
A apresentação que assistimos aconteceu no pequeno Wiltern Theatre, em Los Angeles. Com capacidade para menos de 3 mil pessoas, o Wiltern abrigou um show histórico. Geralmente em retornos de artistas que deixaram suas marcas em décadas atrás, existe um receio sobre o atual momento musical em que se encontram. No caso do Buffalo, o que era dúvida, se tornou vibração ao som do primeiro acorde de “On The Way Home”. Era visível que os músicos estão na estrada com o propósito de se divertirem e mostrar para as novas gerações canções que ficaram perdidas décadas atrás. Além de Stephen Stills e Neil Young, outro membro da formação original do Buffalo Springfield é o também vocalista e guitarrista Richie Furay. Completam o time o baixista Rick Rosas e o baterista Joe Vitale.
Com uma Fender Stratocaster em mãos, Stephen Stills mostrou que ainda é um grande guitarrista, digno de ter sido aluno de Jimi Hendrix. Com um estilo único, valorizando timbres e belas melodias, o músico arrancou aplausos do público e sorrisos dos companheiros de palco. Logo no início, ele já deixou claro em Rock n’Roll Woman que o tempo não o tirou da boa forma que apresentava décadas atrás.
E sobre Neil Young, às vezes, faltam adjetivos para definir o estilo do músico. Veterano do rock, o canadense já percorreu desde o lirismo acústico até distorções extremas, sempre com muita originalidade. No Buffalo Springfield, ele explora um pouco de cada elemento, seja no seu violão Martin dos anos 40, até em sua Gibson Les Paul 1953, uma guitarra clássica do rock, que ainda acompanha Neil Young na estrada. Os seus amplificadores também são itens de coleção: todos Fender tweed da década de 50.
No repertório, o quinteto apresentou um pouco de cada disco do Buffalo Springfield, tocando a alegre “Burned”, a ácida “Mr.Soul” e a beleza acústica de “I Am a Child”. Num clima intimista, a apresentação foi daquelas antológicas, em que músicos e plateia ficam em perfeita e intensa sintonia.
Mas o melhor realmente ficou para o final, quando a banda voltou com Broken Arrow, canção que encerra o disco Buffalo Springfield Again, de 1967. A música, com mais de seis minutos, mistura elementos do rock, psicodelia e até jazz, sendo tocada de maneira impecável ao vivo. Depois veio “For What it’s Worth”, o maior sucesso comercial da banda, em que os guitarristas fazem solos e riffs repletos de harmônicos.
Na última canção, uma surpresa. Quando todos esperavam alguma música da banda, Neil Young abriu o volume de sua Les Paul, ligou uma distorção e puxou “Keep On Rockin’ in the Free World”, sucesso de sua carreira solo. Nas guitarras, Young, Stills e Richie Furay se revezaram em solos distorcidos, com a vitalidade de quando lançaram o primeiro disco, 45 anos atrás.
Em uma entrevista recente, Furay admitiu que esses shows estão sendo gravados e, que, possivelmente, venham a se tornar um disco ao vivo. Todos já estamos na torcida, pois será uma oportunidade única de ter acesso aos shows dessa banda que, em três anos, na distante década de 60, deixou um grande legado para a história do rock".

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Eu voltei, não sei se é para ficar...

O mundo é realmente um interessante local de ciclos. Talvez a circunferência do globo terrestre facilite o trabalho do tempo, que por sua vez insiste em andar 360 graus, voltando ao ponto inicial, quase sempre mostrando alguma diferença ao contexto original.
Sim, escrevi de forma confusa as linhas acima propositalmente para ilustrar uma situação ocorrida ainda hoje.
Estávamos eu e o brother Márcio Grings tomando uma cervejinha, comendo um típico xis de Santa Maria e falando sobre a necessidade ou não de estar inserido com os dois pés na web através de redes sociais e blogs. O Márcio foi insistente ao defender seu ponto de vista sobre o poder do Twitter, por exemplo. No entanto, sou obrigado a me transportar para os idos do ano de 2001 quando começou a difusão definitiva do conceito de computador da família. Nessa época, eu, boquiaberto me rendia diante das facilidades da internet.
O Mr. Grings, por volta de 2002, afirmou categoricamente que não tinha a manha e que até o "lance de e-mail" ele não possuia.
Menos de dez anos depois, o cara me convenceu que as ferramentas da internet são indispensáveis. Por isso estou reativando meu espaço aqui com um novo layout.
Márcio, o mundo dá muitas voltas e tu venceu teu amigo aqui com relação a alimentar o blog. Cá estou fazendo novamente...

Eu voltei, não sei se é para ficar...

sábado, 9 de janeiro de 2010

O Rei

Há 75 anos, nascia o Rei do Rock: Elvis Presley. Tudo, ou quase tudo já foi dito sobre The Pelvis, então não vou prolongar o discurso. Abaixo segue uma listinha de canções fundamentais para entender a obra de Elvis.

1º Mistery Train - mostra o feeling juvenil de Elvis em 1954. Destaque para o riff de guitarra de Scott Moore, que desafia músicos até hoje.

2º That's All Right, Mama - Da mesma leva de Mistery Train, mostra o quão gigante Elvis era com um violão em punhos.

3º Can't Help Falling In Love - de 1960, a canção encerrava as apresentações do Rei. Lirismo, na medida certa.

4º Suspicious Minds - Canção importantíssima para a retomada de Elvis, no fim da década de 60. Uma das mais belas músicas sobre ciúme escritas até então.

5º You've Lost That Lovin' Feeling - Quer chorar no cantinho? Ouça essa canção, uma das grandes interpretações de Mr. Presley.